Newswise — ROCHESTER, Minnesota. — O medicamento eculizumab, um anticorpo sintético que inibe a resposta inflamatória, reduziu significativamente o risco de recaída do doenças do espectro neuromielite óptica (NMOSD). Esse distúrbio inflamatório autoimune raro, mas grave, pode causar cegueira, paralisia e morte. Pesquisadores da Mayo Clinic e colaboradores internacionais relatam suas descobertas em um estudo randomizado, duplo cego, controlado por placebo, publicado no New England Journal of Medicine. O trabalho deles também será apresentado na sessão da Emerging Science Platform, parte do 71º Encontro Anual da Academia Americana de Neurologia na Filadélfia entre os dias 4-10 de maio.

A neuromielite óptica, também conhecida como doença de Devic, ocorre quando o sistema imunológico do organismo reage contra células saudáveis do sistema nervoso nos nervos ópticos e na medula espinhal e, às vezes, no cérebro. A neuromielite óptica é frequentemente erroneamente diagnosticada como esclerose múltipla (EM), mas a neuromielite óptica é uma condição distinta caracterizada por ataques mais graves e uma recuperação menos completa. Um único ataque de neuromielite óptica pode deixar o paciente cego ou paralisado. Com cada recaída, a incapacidade pode piorar. Afeta até 10 em cada 100.000 pessoas.

Atualmente, as terapias imunossupressoras usadas para prevenir recaídas de neuromielite óptica não foram aprovadas pela Food and Drug Administration. Além disso, 25 a 60 por cento dos pacientes que recebem esses medicamentos continuam a ter ataques recorrentes, observam os autores.

No estudo de Prevenção de Recaídas e Avaliação do Eculizumab no Tratamento das Doenças do Espectro Neuromielite Óptica (PREVENT), 143 adultos foram inscritos em 70 locais em 18 países. Todos os pacientes tinham imunoglobulina G anti-aquaporina-4 (AQP4-IgG), um anticorpo associado à maioria dos casos de neuromielite óptica. Os pacientes podiam continuar seu tratamento prévio, se desejassem. Além disso, os pacientes foram aleatoriamente designados para receber doses regulares de um placebo ou eculizumab intravenoso.

O estudo constatou que o tratamento com eculizumab reduziu o risco de recaída em 94 por cento, em comparação com um placebo. Às 48 semanas, quase 98 por cento dos pacientes tratados com eculizumab não recaíram, comparados com 63 por cento dos pacientes com placebo.

"Este estudo oferece esperança aos pacientes, uma vez que cada ataque na NMO pode causar perda de função visual ou motora", diz oDr. Sean Pittock, um Neurologista da Mayo clínic e autor principal. "Parar os ataques pode prevenir a deficiência e permitir que os pacientes mantenham suas funções e uma melhor qualidade de vida."

A Mayo Clinic é um reconhecido centro de excelência para diagnosticar e tratar a neuromielite óptica. Em 2002, pesquisadores da Mayo Clinic liderados pela Dra. Claudia Lucchinetti e seus colegas descreveram as características patológicas únicas da NMO e propuseram que a NMO é uma doença autoimune causada por um ou mais anticorpos prejudiciais. Em 2004, a Dra. Vanda Lennon, Ph.D., o Dr. Brian Weinshenker, e seus colegas da Mayo relataram a descoberta do biomarcador AQP4-IgG, um exame de sangue que diferencia a neuromielite óptica da EM e distúrbios semelhantes. O anticorpo AQP4-IgG mostrou posteriormente ser capaz de causar dano às células nervosas de acordo com o que o Dra. Lucchinetti e seus colegas relataram, e o AQP4-IgG é agora amplamente considerado como a causa da NMO.

"A equipe da Mayo Clinic demonstrou posteriormente que quando o anticorpo se liga ao AQP4 dos canais de água nas células nervosas, uma substância chamada 'complemento' é ativada e mata as células, causando uma lesão significativa. Pensávamos que, se pudéssemos bloquear a ativação do complemento, talvez pudéssemos prevenir ataques", diz o Dr. Pittock, diretor do Centro de Esclerose Múltipla e Neurologia Autoimune e do Laboratório de Neuroimunologia, da Mayo Clinic.

O eculizumab tem sido usado para tratar doenças nas quais a ativação do complemento causa danos, como a miastenia gravis, uma doença muscular, e a hemoglobinúria paroxística noturna, uma doença genética que afeta os glóbulos vermelhos. Em um ensaio clínico em fase inicial, a equipe da Mayo observou uma quase completa cessação dos ataques de neuromielite óptica. Com base nesses resultados iniciais, esse grande estudo multicêntrico e internacional foi realizado.

"Estes novos resultados do estudo confirmam o importante papel do complemento na neuromielite óptica e avançam nossa compreensão de como a doença funciona", diz o Dr. Dean Wingerchuk, neurologista da Mayo Clinic e autor sênior. "Este estudo fornece evidências claras de que podemos alterar favoravelmente o curso desta doença neurológica, muitas vezes devastadora."

Os efeitos colaterais do eculizumab incluem risco de infecções meningocócicas. Os participantes do estudo foram vacinados contra infecções meningocócicas, e nenhum caso foi relatado. Uma pessoa recebendo o eculizumad morreu por um infecção que não estava associada com a inibição do complemento.

Este estudo apenas incluiu doentes com anticorpos AQP4-IgG, logo os resultados não podem ser extrapolados para outros distúrbios inflamatórios do sistema nervoso central. O efeito a longo prazo do eculizumab em pacientes com neuromielite óptica requer mais estudos, observam os autores.

Os co-autores envolvidos neste estudo são de instituições em Munique, Alemanha; Sendai, Fukushima e Koriyama, todas no Japão; Goyang, Coreia do Sul; Baltimore, Maryland e Boston, nos EUA; Oxford, Inglaterra; Samsun, na Turquia; São Petersburgo, Rússia; Kuala Lumpur, Malásia; e Taipei, Taiwan. Para uma lista completa, consulte o New England Journal of Medicine.

O estudo foi apoiado pela Alexion.

O Dr. Pittock relata subsídios, honorários pessoais e apoio não financeiro da Alexion; subsídio da Grifols S.A. e da Autoimmune Encephalitis Alliance; e subsídio, honorários pessoais, apoio não financeiro e outros da Viela Bio. O Dr. Pittock tem a Patente No. 9.891.219 (inscrição N° 12-573942), "Métodos para o Tratamento de Neuromielite Óptica pela Administração de Eculizumab a um Indivíduo que é Autoanticorpo Aquaporin-4 (AQP4)-IgG positivo." O Dr. Wingerchuk reporta subsídio da Alexion e da Terumo BCT Inc., e honorários pessoais da Viela Bio, da Ono Pharmaceutical Co. Ltd., da Celgene Corporation e da Novartis AG.

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